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contragrupo é um ensaio político de leitura coletiva do cânone filosófico, orientado pela necessidade de se produzir uma análise contínua das evidências que sustentam não apenas seus conceitos, mas, também, sua autoridade e suas violências. Trata-se de suspender a explicação relativamente fácil – ou, ao menos, imediata – de um real acessível a todos e substituí-la pelos mecanismos de configuração do real como instância normativa, experiencial, filosófica, literária, científica – mas, em todo caso, definida no nível dos discursos. Ao analisar os discursos do que se convencionou denominar o cânone filosófico – que só se formaram a partir da obstrução da participação, nesse espaço, de certos tipos de enunciação, de certas práticas e de certos problemas – pretendemos nos concentrar não em um nível exclusivamente teórico ou pragmático: consideramos, ao contrário, que toda teoria é uma prática, não em um sentido universal de atos de fala codificáveis, mas um exercício de construção do real. O enfrentamento do racismo, do eurocentrismo, da misoginia, da homofobia e da transfobia representa apenas uma parte das lutas que deveremos perseguir, uma vez que os horizontes de dominação atingem estruturas muito menos tangíveis, mas não menos violentas, de silenciamento, ordenação, hierarquização e apagamento. Será preciso, assim, estender tal enfrentamento ao campo das formações do cânone.

 

Os estudos que se desenvolverão no âmbito do contragrupo transbordam, por vocação, os limites desse cânone filosófico, pois procurarão investigar como esses limites se referiram a outros sistemas de normatização e a outros modelos conceituais, que serão buscados na literatura, na história, na sociologia e na teologia, por exemplo. Tornar complexa a análise política do cânone consiste, portanto, em revelar as tensões que se elaboram no interior e no exterior do território que ele pretende construir para si.

 

Não tomaremos, portanto, nem o cânone, nem a história como paradigmas dados: para cada projeto de investigação, será sempre preciso considerar a forma específica como se constrói a hipótese, sua cronologia, sua epistemologia. O tipo de leitura que sugerimos contra a autoridade da evidência canônica é o da hipótese experimental. Nesse sentido, seu engajamento político não é exatamente com uma forma de ideologia, mas com um horizonte de ação que pretende fazer da diferença, e não da identidade, da descontinuidade, e não da totalização, o núcleo de leitura. Isso é algo muito diferente de uma (sempre falsa) pretensão de neutralidade. Percebe-se, assim, que ao lado do projeto de desarticulação e rearticulação dos discursos filosóficos, faz-se acompanhar um debate sobre o método, sempre por ser construído novamente.

contragrupo está indexiado como grupo certificado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq. Os dados podem também ser acessados aqui.

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